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O que é fotografia computacional?

Outro dia publiquei uma matéria sobre smartphones onde usei o termo Fotografia Computacional para explicar algumas estratégias que os fabricantes estão usando para fazer com que seus celulares produzam melhores imagens.

Logo depois, o termo foi utilizado novamente pela imprensa internacional quando o site DPreview.com elencou como melhor “câmera de smartphone de 2017” o smartphone Google Pixel 2.



Segundo o site, a câmera do Pixel 2 ganhou o prêmio por causa da qualidade de imagem que pode produzir a partir de um hardware minimalista, graças a abordagens computacionais.

 

Módulo de câmera destacado no Google Pixel 2

 

Para entender como isso se dá basta observar como essa câmera funciona. O Pixel 2 mantém continuamente 9 quadros de imagem gravados em sua memória. Quando você aciona o obturador ele usa o autofoco do tipo Dual Pixel em toda a área do sensor (coisa que nem mesmo câmeras tradicionais fazem) juntamente com esse “buffer” de 9 quadros de imagem, definindo assim o foco mesmo em pouca luz.

Isso significa que o seu assunto fotográfico provavelmente foi pré-focalizado antes mesmo de você pressionar o botão do obturador.




No final das contas, quando você dispara a foto, a câmera do Google Pixel 2 “volta no tempo” para esses últimos 9 quadros que você nem sabe que ele gravou, e faz uma combinação dessas imagens reduzindo o ruído (aquele esfarelamento na foto…) em mais de 3 “stops” comparado com um sensor convencional do mesmo tamanho.

 

Avaliação da DxO sobre a câmera do Google Pixel 2

 

Moral da história: você consegue uma foto luminosa, limpa e bem focalizada mesmo quase no escuro, e isso tudo com um sensor, processador e lentes mais ou menos parecidos com os de um smartphone comum…

Entendeu o que é Fotografia Computacional?

Podemos dizer também que as câmeras de smartphones não conseguem obter melhores imagens atualmente pois seu design e tamanho não permitem que sejam instalados sensores maiores ou lentes mais “profundas”, no entanto com a abordagem da Fotografia Computacional eles podem ficar mais inteligentes.




Com algoritmos (adoro essa palavra) sofisticados e técnicas aplicadas por software, essas pequenas câmeras podem chegar a produzir imagens indistinguíveis de algumas câmeras DSLR convencionais “de entrada” do mercado. Não demorará muito para que o modo automático da câmera do smartphone seja também capaz de retocar imagens em tempo real, coisa que talvez já esteja acontecendo no iPhone X.

Outra coisa interessante na abordagem da Fotografia Computacional é a de que ela é uma revolução na forma de se pensar a imagem. O que eu quero dizer é que ao longo de 150 anos (ou mais, sei lá…) da história da fotografia, uma câmera fotográfica era um instrumento de “captação” de imagem, e só. Qualquer outro tipo de manipulação, correção e armazenamento era feito depois, fora da câmera e longe do cenário fotografado.

 

Imagem obtida com o Google Pixel 2. Fica difícil dizer que não tenha sido obtida com uma câmera convencional

 

Agora estamos passando por uma mudança crucial, onde a câmera fotográfica também é o lugar da manipulação, armazenamento e mesmo distribuição da imagem fotográfica. E isso não está acontecendo só com os smartphones, pois todos os lançamentos de câmeras mais sofisticadas do mercado tem algum tipo de conectividade com smartphones e mesmo tratamento de imagens, como a manipulação de arquivos RAW feita internamente.

Provavelmente veremos em breve, se é que já não está acontecendo em segredo, câmeras profissionais utilizando softwares avançados para apresentar imagens mais sofisticadas. Apesar de serem voltados para o mercado profissional, esses equipamentos deixariam de depender do uso de lentes e sensores caríssimos para produzir fotografias com o melhor nível técnico possível.

Seria uma verdadeira revolução!




Bem, você ainda não precisa jogar fora sua coleção de lentes intercambiáveis da Leica, hehehe, mas o futuro promete câmeras que dependam menos do conjunto óptico e de sensores grandes e caros.

Como ainda estamos no começo dessa revolução é bom prestar atenção nos próximos anos em como os fabricantes de smartphone vão implementar essa abordagem no resto de suas linhas. O público tem adorado os primeiros resultados, como se vê pela adoção em massa do Efeito de Desfoque (bokeh) inaugurado pela Apple.

Para que o resto do mundo fotográfico adote a Fotografia Computacional como estratégia de produção de imagens é só um “pulinho”!!!