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O Coronavírus e o mercado fotográfico

O mercado fotográfico e todo o resto do mundo andam assustados com a confusão causada por um Coronavírus, o COVID-19. A China, onde a nova doença surgiu, está praticamente parada, e esse é o problema para o mercado de câmeras e equipamentos fotográficos.

Da mesma maneira como praticamente todo produto manufaturado no mundo, câmeras e acessórios fotográficos também dependem da China.

Além da produção de peças e partes eletrônicas muito sofisticadas, como os sensores digitais, vários fabricantes de câmeras fotográficas montam seus produtos nesse país, que se transformou na “grande fábrica” do mundo.

mercado fotográfico
O Coronavírus ameça o mercado fotográfico em 2020

Isso faz com que toda a cadeia de produção e distribuição de produtos fotográficos entre em crise.

A coisa é séria e a Sony, que possui quatro grandes fábricas de sensores de imagem na China, já anunciou que está preocupada de que o surto do novo coronavírus possa afetar negativamente seus negócios.

É verdade que o setor fotográfico é o de menos nesse problema. As recentes quedas das bolsas pelo mundo todo e o aumento do valor do dólar são um prenúncio do que nos espera se essa provável pandemia do Coronavirus não for contida.

Mas como eu falo de fotografia, vamos focar nas consequências desse vírus para nosso mundinho fotográfico.

Coronavírus e as novas câmeras

Como eu já publiquei anteriormente, o grande número de lançamentos de câmeras fotográficas no final de 2019 e início deste ano está ligado mais aos Jogos Olímpicos de Tóquio do que a outras coisas, como a melhora do mercado consumidor.

Este tipo de evento, de alcance mundial, tem servido ao longo dos anos como uma grande vitrine para fabricantes de câmeras mostrarem suas mais novas tecnologias.

Sony A9 II
Câmeras como a nova Sony A9II são ideais para fotografia esportiva

Fotografar esportes em Olimpíadas ou Copas do Mundo exige bastante do fotógrafo e do equipamento, pois um segundo de desatenção ou falha do equipamento podem por a perder a imagem de uma vida. Equipamento caros e de ponta são sempre uma constante nas mãos tanto de profissionais quanto do público, neste tipo de evento.

A Olimpiada de Tóquio é mais significativa ainda. O Japão é a sede de quase todas (talvez todas) grandes empresas fabricantes de câmeras na atualidade. É imprescindível que elas mostrem o seu melhor em sua própria casa. Além disso o mercado consumidor para câmeras e acessórios do Japão é um dos maiores (se não o maior) do mundo!

Dúvidas e mais dúvidas

E eu fico me perguntando: o que aconteceria se os fabricantes japoneses não pudessem entregar seus novos lançamentos para serem utilizados nesse evento? E o que aconteceria então se os Jogos fossem adiados ou cancelados?

Do ponto de vista estratégico é um baque e tanto para empresas que ainda dão algum lucro, como Canon e Fujifilm, ou uma catástrofe para outras com problemas estruturais, como Nikon e Olympus.

No caso da Canon, o recente lançamento da Canon EOS-1D X Mark III, uma câmera voltada exatamente para esportes, pode não chegar em quantidade suficiente para fazer alguma diferença aos profissionais.

O caso da Fujifilm X-T4 é pior ainda, pois ela mal foi anunciada e como é uma câmera voltada também para o público consumidor, pode nem chegar às lojas até o início do evento. A Olympus OM-D E-M1 Mark III, também recém lançada, perderia uma grande janela de exposição, coisa imprescindível para uma empresa mal situada no mercado como a Olympus.

OM-D E-M1 MIII
A OM-D E-M1 MIII é uma boa câmera para esporte e aventuras

A Nikon D6 tem uma vantagem pois já está disponível no mercado há algum tempo, mas a nova Nikon D780 pode nem aparecer no evento. Isso se houver Olimpíada…

O turismo também é um problema

Outro problema de mercado que afeta a fotografia é o turismo. Muita gente ainda compra câmeras para viajar, pois nem todo smartphone fotografa bem o suficiente para satisfazer o usuário.

No caso de viagens essa pode ser a diferença entre ter uma boa lembrança de uma viagem ou não ter nenhuma. Com as pessoas cancelando viagens para destinos importantes como a Itália, ou mesmo sendo impedidas de viajar por causa do cancelamento de vôos ou de restrições oficiais, para quê comprar uma câmera nova?

Numa viagem um smartphone pode não ser o suficiente para os mais exigentes

E existe também, no caso dos Brasileiros, o turismo para compra de equipamentos fotográficos. Quantos profissionais e amadores já não viajaram para Nova York, Miami ou Ciudad del Este só para comprar um equipamento novo, recém lançado? Vale a pena voltar e correr o risco de ficar em quarentena, hehehe?

Tudo bem, isso não tem graça nenhuma…

Como trabalhar durante uma epidemia

Aqui no Brasil não temos muitas experiências com epidemias que obrigam as pessoas a ficar isoladas, sem trabalhar ou manter uma rotina.

No caso do Coronavírus COVID-19, que na prática ninguém sabe muito bem como se espalha, a China fechou para balanço. Tudo foi proibido, como casamentos, reuniões e festas.

Fico me perguntando se uma ordem de quarentena urbana funcionaria no Brasil. De qualquer maneira é preciso esperar uma grande diminuição de trabalhos fotográficos em eventos, casamentos, aniversários e coisas do gênero.

fotografia de eventos
Trabalhos em casamentos e festas podem diminuir durante uma epidemia

Trabalhos em estúdio terão que adotar algumas precauções, como esterilizações e pouca proximidade entre as pessoas (utilize teleobjetivas, hehehe). E isso no caso de que ainda exista alguma demanda para este tipo de trabalho durante um “outbrake” (surto da doença)…

Talvez seja aceitável trabalhar em ambientes abertos, sem muitas aglomerações. De qualquer maneira fotógrafos profissionais sempre devem ter uma reserva de capital para tempos de vacas magras. Sim, eu sei que é fácil falar…

Quanto tempo o mercado fotográfico aguenta?

O problema do mercado fotográfico é que ele já estava em crise antes do surto de Coronavírus. Diferentemente do mercado de smartphones e mesmo de Tvs, que continuam com alta demanda, a diminuição das vendas ou mesmo a interrupção total do mercado por algum tempo pode ser fatal.

Eu digo isso porquê fabricantes de outros tipos de equipamentos sabem que, passado o surto da doença, rapidamente a cadeia de produção se restabelece e o mercado volta a consumir (desesperadamente, diga-se de passagem no caso dos smartphones).

clientes para serviços fotográficos
Não é preciso se jogar na frente de um trem, tudo se resolve…

Já os fabricantes de câmeras e mesmo os profissionais de fotografia não tem essa certeza. Se a coisa durar muito tempo o pouco que resta no público da memória sobre a fotografia tradicional pode desaparecer. É só ver o que aconteceu com a fotografia analógica…

Além disso muitas das empresas do mercado fotográfico acumulam prejuízos e os investidores tem muitas dúvidas sobre sua sobrevivência. Alguns eventos em que esse quadro poderia ser revertido foram cancelados por causa do Coronavírus, como a feira CP+ 2020, que aconteceria de 27 de Fevereiro a 1 de Março em Yokohama, no Japão.

De qualquer maneira eu sei do seguinte: existe muita gente, no mundo todo, que apoia, consome e se sente feliz fotografando o tempo todo. E sei também que o surto de Coronavírus pode ser muito menos assustador do que parece. Daqui a pouco isso passa… Tudo passa!

5 thoughts on “O Coronavírus e o mercado fotográfico

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  • Paolo Roberto

    Agora estamos em junho de 2020…o mercado de câmeras usadas esta um absurdo, as câmeras novas mais absurdo ainda…câmeras q lançaram a 5 anos custando o mesmo ou até mais do que quando lançaram. jobs quase desapareceram…n há eventos, tds só estão gastando somente com os essenciais, infelizmente fotografia e filmagem n entram nesse grupo. as lives no youtube e insta estavam em alta, é um nicho para se aperfeiçoar no momento .

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    • Pois é, eu também notei que muita gente está vendendo seus equipamentos por preços muito altos, talvez querendo sair do mercado e recuperar o capital investido sem perdas. Estou preparando um artigo sobre isso, apesar de não gostar de más notícias, hehehe. Aguarde! Abçs

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