Meu processo criativo em fotografia
Cada pessoa tem a sua maneira própria de expressar suas idéias e sua personalidade no mundo em que vivemos. Um fotógrafo não é diferente e seu processo criativo pode vir de dois lugares: da negação de sua própria personalidade, buscando reproduzir a realidade como o “senso comum” ou a moda gostariam ou respeitando a sua individualidade, buscando na fotografia a representação do seu próprio olhar interior.
Seria muito bonito de minha parte dizer que um fotógrafo só faz sucesso quando exercita sua marca pessoal em suas imagens mas, do ponto de vista comercial, esse pode ser o caminho do fracasso. Mesmo nos profissionais vistos como artistas existe algum alinhamento entre as imagens que ele faz e o “gosto” do mercado.
Então para quê devemos entender o nosso processo criativo se na prática ele pode até ser um “problema” no campo profissional?
A resposta é curta e grossa: devemos estudar nosso processo criativo para entendermos do que somos capazes de fotografar ou não, ao mesmo tempo em que caso tenhamos que nos adaptar ao estilo do mercado não percamos de vista nossa própria identidade. É simples assim.
Foi dessa maneira que aos poucos descobri que eu não tinha o “physique du rôle” para ser fotógrafo de moda. Como eu sou meio careta fico achando que ninguém vai acreditar que eu seja fashion o suficiente para capturar, usando um termo antigo, o “último grito da moda” (é para gritar mesmo…). O pior é que eu fotografo moda muito bem mesmo quando estou fotografando o cotidiano, nas ruas ou de longe, utilizando uma tele objetiva. De qualquer maneira tenho a impressão que os modelos fotográficos nunca vão me respeitar como fotógrafo…
Estudando meu processo criativo descobri também que eu não tinha o “physique du rôle” para ser fotógrafo de viagens. Pois é, por uma série de motivos meu nível de stress vai ao máximo nas classes econômicas, em hotéis duvidosos, comendo comidas estranhas e sentindo mudanças de temperatura drásticas portanto eu só poderia viajar para a Índia dentro de uma bolha ou do Jupiter II do seriado Perdidos no Espaço (até hoje o melhor “Space Wagon” já imaginado).
Ainda estudando meu processo também descobri que eu não tinha o “physique du rôle” para ser fotógrafo urbano, o famoso “street photographer”. Apesar de não parecer sou muito tímido. Alguns acham que é porquê tenho medo de tudo e todos mas na realidade eu tenho medo da minha reação caso seja confrontado por alguém que não quer ser fotografado ou que se sente invadido ao ter sua imagem capturada em público. Um fotógrafo urbano tem que ter uma mistura de respeito e desrespeito pela figura humana e pela paisagem além de uma boa dose de jogo de cintura que eu, no fundo, não tenho.
Então estudando meu processo criativo na fotografia percebi algumas coisas bem específicas:
- Gosto de fotografar a paisagem porque quem escolhe o melhor ângulo e o momento de captar a imagem sou eu. A paisagem nunca reclama que a foto ficou ruim.
- Gosto de fotografar gente que não percebe que está posando mesmo quando está fazendo alguma coisa bem comum em seu cotidiano.
- Não gosto de dirigir modelos para que façam o que eu quero, prefiro revelar o olhar e os gestos que a própria pessoa tem.
- Gosto de fotografar o clima e seus contrastes por causa da força que os elementos tem.
- Gosto de fotografar os detalhes e o cotidiano com precisão porque enxergo muito mal tanto de longe quanto de perto.
- Quando estou numa situação de stress fotografo como que para ter controle sobre a situação. A câmera me protege.
E é dessas considerações que saem minhas fotografias sempre carregadas de algo muito forte que não sei bem definir mas que faz com que as pessoas olhem e digam: que bonito!
Não é todo mundo que gosta mas que é que eu vou fazer…
Achei seu blog por um acaso procurando por processo criativo e me identifiquei com muita coisa que você disse. Ainda sou um fotógrafo inexperiente, mas que tô meio cansado do mesmo. O que eu digo é em relação ao que eu quero mostrar. O meu problema é que eu não consigo me ver naquelas imagens. Parece que eu só quero mostrar algo bonito e ponto. E não é bem exatamente o que eu quero. Eu quero saber que aquela imagem tem um sentido pra mim. Que ela representa algo de mim. Não só pelo ângulo escolhido, o porque de ser aquele o objeto fotografado. O que eu queria dizer com aquilo ou o que ele quer dizer pra mim. Não que eu pense que as pessoas vão ter a mesma percepção, mas sim que pra mim, ela signifique alguma coisa. E isso tem sido um grande problema. Como você, eu amo fotografar natureza, gosto muito de fotografar pessoas também, mas tenho um sério problema em dirigi-las. Fotógrafo urbano também não acho que seja minha praia. Pelo mesmo motivo que você. Não saberia como lidar com certas situações.
PS: Suas fotografias são incríveis. E elas realmente tem um diferencial. Tem uma sensibilidade. Coisa que nas minhas eu não consigo ver.
No mais, parabéns pelo blog.
Breno, muito obrigado pelos elogios, é um incentivo e tanto. Descobrir seu próprio processo criativo é um processo demorado e trabalhoso. Por muitos anos orientei alunos nessa descoberta do próprio conceito artístico e você me deu a idéia de escrever um tutorial sobre isso. Continue acompanhando o Blog que em breve vou publicar a matéria e não desista, quando menos a gente espera nosso olhar se abre. Abraços!
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