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Como anda o Fotojornalismo na China?

Pois é, tanto se fala da China, mas existe fotojornalismo por lá? Um artigo recente publicado pela editora fotográfica Ye Ming acaba de fazer um bom resumo de como anda a situação do fotojornalismo nesse surpreendente país.

O artigo, publicado no site Witness do worldpressphoto.org (leia em inglês), faz um bom apanhado de como o fotojornalismo surgiu, evoluiu e sofre com o advento do mundo online na China.

Vejamos alguns pontos principais do artigo.

Desde a tomada do poder na China pelo partido comunista em 1949 até o final da Revolução Cultural no final da década de 1970, o único propósito da mídia chinesa era servir como porta-voz do governo. A fotografia, sem exceção, existia como uma ferramenta de propaganda.

A profissão de fotojornalista, que só começou a prosperar na China com a abertura comercial nos anos 90, não desfrutou do longo e celebrado status que tem no mundo ocidental.

O sucesso da mídia orientada para o mercado rapidamente fomentou uma safra de fotojornalistas profissionais, que sem treinamento formal recorreram a seus colegas ocidentais, imitando cuidadosamente os estilos e tendências da fotografia que apareciam nas primeiras páginas dos jornais e em agências de notícias como a Reuters e Associated Press.

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Para comemorar sua fuga da Revolução Cultural nadando durante seis horas, Chan Hak Chi, retratado aqui, nada todos os dias – Foto de Wu Yue.

Da mesma maneira como no Ocidente, a “década de ouro” do fotojornalismo na China chegou ao fim quando portais de notícias online chegaram com força total em meados dos anos 2000. Essas empresas novas e bem financiadas produziram uma grande quantidade de reportagens fotográficas originais com uma pequena equipe editorial interna.

Ye Ming fala também que a era da “auto-mídia” surgiu com a crescente popularidade do Weibo, a versão chinesa do Twitter lançado em 2009, e dois anos depois com o WeChat, um aplicativo de mensagens sociais. Como mais da metade dos 1,4 Bilhão de Chineses está online através de smartphones o influxo de imagens se tornou gigantesco.

Atualmente, em uma onda de aquisições de conteúdo, novas plataformas digitais lançaram iniciativas para atrair imagens geradas pelos usuários que tenham um número substancial de seguidores nas redes sociais chinesas, com a promessa de grandes lucros.

Como resultado, um grande número de ex-fotojornalistas e fotógrafos amadores se inscreveu para publicar nessas plataformas. Esse método de monetização, que depende exclusivamente de cliques, incentiva a produção de conteúdo agradável ao público, imagens que transmitem emoção mas com baixo valor jornalístico.

Agora, a ascensão da “auto-mídia” na China está forçando até mesmo sites digitais que mantém equipes editoriais a reduzir seus departamentos de fotografia, direcionando suas estratégias para se tornarem mais amigáveis às imagens geradas pelos usuários de internet. Isso tem deixado os fotojornalistas e editores fotográficos incertos sobre seu futuro.

Segundo o artigo os fotógrafos Chineses são incrivelmente adaptáveis as mudanças de situação do mercado, tendo aderido rapidamente ao vídeo e mesmo ao uso de Drones. No entanto os fotógrafos ligados à fotografia de “still” tem dificuldades em entender para que serve uma imagem jornalística. Por exemplo, no WeChat a maioria das fotos ainda são horizontais e com composição complexa, o que dificulta sua leitura.

Outro problema encontrado na área é que a formação de Fotojornalistas é limitada na China. Poucas universidades oferecem cursos nessa área e quando existem são na realidade parte de cursos de Jornalismo ou de alguma área de Comunicação.

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A matéria do site witness.worldpressphoto.org é longa mas muito interessante, e mostra como a área de Fotojornalismo enfrenta problemas mesmo em países com bom desempenho econômico.

Isso faz pensar no Brasil, afinal com todos os nossos problemas fica mais difícil ainda convencer alguém que uma foto obtida com intuito jornalístico possa ser mais interessante do que uma foto tirada por uma simples testemunha de um evento, com seu celular.

E lembrei de outra coisa… No Brasil alguns fotojornalistas tentaram enveredar por uma produção fotográfica artística, o que é um problema pois demanda um outro tipo de formação.

A construção de um conceito e de uma visualidade específica do ponto de vista artístico só pode ser dada por uma trajetória de investigação poética pessoal. Isso demanda um outro tipo de experimentação fotográfica. Não admitir essa situação é o mesmo que dizer que qualquer portador de um smartphone pode produzir imagens “fotojornalísticas”, digamos.

Por enquanto o jeito é esperar para ver o que o século XXI vai fazer com a profissão de Reporter Fotográfico.

Ps.: Se você está interessado em entender como funciona a criação artística na fotografia veja o artigo que escrevi sobre o meu próprio processo.

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