Por quê a saída da Nikon do Brasil comoveu o mundo?
Se você acompanha este Blog já sabe da saída da Nikon do mercado Brasileiro. Bom, quando a empresa parou de distribuir seus equipamentos por aqui ficou claro que em breve ela encerraria suas atividades.
Isso já havia acontecido na Africa do Sul e até mesmo no Panamá, pois eram mercados que não pareciam para a Nikon comportar uma operação própria.
Até aí tudo bem, paciência, mas comecei a sentir que as coisas estavam estranhas com o aumento de visualizações do artigo que fiz sobre o encerramento total das atividades da Nikon em nosso país, ocorrido na semana passada.
Logo em seguida vários sites de notícia nacionais de grande audiência começaram a veicular o assunto, coisa que nunca haviam feito. Percebi também que eu havia me tornado referência de várias dessas matérias.
Até achei bom, pois se há alguma coisa nesse país que anda abandonado pela grande mídia é o mercado fotográfico, mas então uma coisa engraçada aconteceu. Os sites especializados internacionais começaram, à partir do Petapixel.com, a veicular a notícia da saída da Nikon do Brasil.
Eu confesso que não entendi nada… Digo isso porquê não me lembro de nenhum outro momento onde alguma notícia sobre nosso mercado fotográfico tenha tomado tanto espaço nos sites de notícia internacionais.
Mesmo o trabalho de Sebastião Salgado, Brasileiro considerado por muitos no exterior como o maior fotógrafo da atualidade, não tem tanta exposição assim nesses meios. Então o que dizer de um mercado de equipamentos fotográficos “inexpressivo” como o nosso?
Logo depois do artigo do Petapixel.com um outro, bem resumido, foi publicado pelo Dpreview, e então resolvi estudar um pouco a situação.
Repercussões da saída da Nikon
De maneira geral os artigos reproduzem o anúncio feito no site da Nikon Brasil e comentam o tamanho de nosso mercado e as dificuldades de manter um negócio por aqui. Falam também, como eu mesmo comentei anteriormente, da entrada da Nikon com uma subsidiária direta no Brasil em 2011 focando eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas que aconteceriam em nosso país nos anos posteriores.
Até aí tudo bem, mas os comentários publicados pelos leitores do mundo todo sobre o assunto foram muito mais reveladores.
Os comentários se dividiam entre aqueles feitos por Brasileiros e outros estrangeiros com conhecimento ou não do país. Os estrangeiros com conhecimento de nossos problemas legais levantavam com muita propriedade as questões do “Custo Brasil”, ou seja, a carga tributária, problemas trabalhistas e insegurança jurídica.
É interessante notar que alguns diziam já ter vivido e trabalhado no país e que se espantavam com a situação local.
Percebi que em ambos os sites a coisa começou a esquentar quando usuários Tupiniquins começaram também a falar sobre o assunto Que tal então elencar a percepção que os “fotógrafos” estrangeiros tem de nosso país para entender melhor a situação? Segundo os comentários:
- O Brasil é um país corrupto, onde nenhuma empresa consegue sobreviver sendo séria;
- Somos uns coitados, pois somos proibidos de ter acesso fácil e com preço justo a melhor tecnologia fotográfica;
- O mercado “Cinza” e o contrabando dominam de tal maneira o mercado que as taxas de importação nacionais servem apenas para protege-los;
- Todos somos loucos (Nuts) por aqui;
- Brasileiros preferem voar para Miami e comprar câmeras e lentes por lá a preços baixos do que comprar por aqui e fomentar o mercado interno;
- Brasileiros são desonestos ao negociar.
Além disso achei muito engraçado um comentário com um link do Mercado Livre para busca de produtos da Nikon no Brasil, postado no site Dpreview para provar que o mercado paralelo oferece equipamentos da marca a preços competitivos no país.
Analisando os comentários
Surpreendentemente achei que a maior parte dos comentários era bem fundamentada e não tinha um viés de preconceito.
Vejamos um exemplo publicado pelo usuário Jippy; “O Brasil e alguns outros países da América Latina não só tem altos impostos de importação, mas em alguns casos, exigências de “manufatura local”. Eu costumava trabalhar para uma grande fabricante de celulares que tinha que ter uma linha de montagem própria no Brasil e em alguns outros países da América Latina por esse motivo. Era terrivelmente caro, uma vez que não podiam competir com a Ásia, resultado da falta de escala e custo de fabricação. Tudo isso devido a políticas protecionistas, embora eu me pergunte qual é a indústria de câmeras locais que estão protegendo …”
Outro comentário bem interessante foi publicado pelo usuário brasileiro FrankBR, feito numa resposta talvez ao aparente preconceito com nosso país : “… Em relação ao poder de compra do mercado brasileiro, basta dizer que 2,6 milhões de carros foram produzidos no Brasil em 2017, de um pico de 3,8 milhões em 2013, o que coloca o mercado brasileiro à frente da França, Canadá, Reino Unido, Rússia, Itália, etc… Se as pessoas podem comprar um carro, por que não poderiam comprar uma câmera Nikon?”
Outra “conversa” interessante foi entre três usuários estrangeiros que discutiam nosso capitalismo. Um deles se perguntava: “Mas eu achava que o Brasil era o sonho dos capitalistas modernos? Por que não vender câmeras lá?”.
Outro respondia: “(O Brasil) É o sonho socialista moderno!”. E então, outro retrucava: “Ele (o Brasil) combina alguns dos piores aspectos do capitalismo predatório com práticas socialistas ineficientes. É uma pena, porque é um país extremamente rico com pessoas e lugares maravilhosos – foi arruinado por séculos de racismo e escravidão.”
Eu caí para trás, até a escravidão e o racismo tem culpa na saída da Nikon do Brasil!
Comentando em Português
E então, surge talvez a mais interessante postagem de todas. Um usuário brasileiro faz um comentário num Português bem escrito desabafando sobre como se sente abandonado pela Nikon depois de ser um usuário fiel da marca por mais de 20 anos.
Seus erros: além de escrever em nossa língua (praticamente um código) em um site estrangeiro, digitou tudo em letras maiúsculas.
Resultado? Um outro comentário: “Now try in English and stop shouting”, o que poderíamos traduzir como “Agora tente em inglês e vê se para de gritar, viu?”. Tive que rir…
No final um outro usuário Australiano, compadecido do Brasileiro, fez uma tradução do texto para o inglês provavelmente usando o Google Translate. A tradução ficou muito boa, mas um outro usuário disse algo do tipo “Deus nos livre de ouvir um brasileiro falar em sua língua nativa em um artigo em inglês sobre, você sabe, o Brasil…”
Parece que por enquanto os comentários internacionais começaram a esfriar. Os leitores do mundo todo nessa altura do campeonato já sabem que a Canon e a Sony estão firmes e fortes no Brasil, coisa que muita gente fez questão de comentar.
De qualquer maneira, num momento tão difícil quanto o que estamos passando em nosso país, é bem chato ver que uma notícia negativa tem tanto impacto entre os interessados em fotografia de todo o mundo.
Enfim, vamos rezar para que um dia sejamos mais respeitados, hehehe.
Excelente postagem, meu caro. Fiquei realmente chocado com a saída da Nikon do Brasil. Sou usuário da marca desde 2010 e, apesar de nunca ter precisado dela para nada, e ter tido que comprar o equipamento no mercado ‘paralelo’ (sem nota fiscal) na galeria 7 de Abril e as lentes, um conhecido trouxe de Miami (pois aproveitando o dólar de 2012 (2,50, mais ou menos), consegui uma fisheye e uma GA 10-24mm pela bagatela de R$4500,00, valor que não conseguiria comprar uma única lente aqui no Brasil), o site brazuca da Nikon, era infinitamente melhor que o Global ou o Americano (e, pode soar arrogância, mas o inglês no é problema para mim), o conteúdo, o simulador de lente, as descrições. Enfim…nosso site BR era um dos melhores da marca.
A culpa, em grande parte dessa saída, é do nosso sistema tributário que, bem lembrado nos comentários que mencionou, geram um custo altíssimo devido ao protecionismo. Mas é importante dizer que a Nikon é uma empresa que está ficando obsoleta muito rapidamente. Vejo isso pela participação dela nas redes sociais. A atividade e interação da Canon com os usuários é muito superior. A Nikon, transparece, estar sentada no trono real e acomodada com a situação que, convenhamos, não é tão confortável assim.
Quanto ao comparativo, infeliz, feito por um usuário, dizendo que se brasileiro pode comprar carro, pode também comprar uma câmera Nikon, tenho que dizer que é a mesma coisa que comparar banana com joelho de porco. O brasileiro não pode comprar carro, apesar de o fazê-lo. Brasileiro compra carro em 60x, (pagando dois e usando um), se endivida ao extremo, apenas para mostrar que tem um carro. O brasileiro paga 100 reais em uma cueca de marca (importada), mas não paga 150 reais no livro do Sebastião Salgado e, ainda por cima, diz “nossa, que livro caro!”.
Os equipamentos fotográficos, e eletrônicos em geral, são muito caros aqui. Em parte porque os custos são altos e, também, em partes pela cultura do brasileiro de pagar o preço que for, independente daquilo valer o custo ou não. O cidadão compra um iPhone X, em 12 ou 24 prestações, apenas para dizer que tem o último modelo de aparelho. As empresas, por outro lado, pensam: se eles pagam esse valor, porque iríamos baixar o preço?
Então, é isso…espero não ter deixado o comentário muito confuso.
Gostaria de parabenizá-lo pelo blog/site, estava a procura deste tipo de conteúdo há muito tempo na internet, mas não achava, acabei caindo aqui por acaso, mas fico feliz de tê-lo feito.
Nossa, obrigado pelos elogios!!! Você é que escreve muito bem, é praticamente um artigo! É bom para que todos saibam que tem mais gente que vive essa mesma experiência. Espero que você continue a acompanhar o Blog, Abraços.
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