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Fotografar a fé com cuidado e respeito

Igrejas e lugares santos são locais fascinantes, onde a fé das pessoas muitas vezes se sobrepõe à organização do espaço e da ordem proposta por algumas religiões.

No Brasil o Cristianismo em suas múltiplas expressões tem proporcionado muitos locais e eventos de interesse para qualquer fotógrafo. No entanto é comum que profissionais e amadores superem o limite do que é razoável na busca por uma boa imagem em lugares de culto.

Santuário Santo Antônio do Valongo
Altar da Catedral Metropolitana de Santiago, Chile – Ricardo Hage, 2018

Como hoje é dia de Nossa Senhora Aparecida pensei em falar um pouco sobre como podemos fotografar ambientes religiosos a partir de minha própria experiência. Como fotógrafo sou alguém que “precisa” registrar viagens e meu cotidiano para poder lembrar dos lugares e experiências pelas quais passei, então é daí que vem minhas reflexões.

Claro que sempre dou “meus pitacos” na área de Fotografia de Casamentos, mas esse tipo de trabalho em fotografia é uma experiência diferente, pois geralmente é feita de comum acordo com a Igreja ou templo onde o evento vai ocorrer.

Na realidade a maior parte das fotos que tiro de ambientes religiosos é da arquitetura. Sou meio tímido e fotografar dentro de igrejas e locais de culto não e fácil para mim, coisa que até faz parte do meu processo criativo (leia mais sobre isso aqui).

Então, quem sabe tratar desse assunto no dia de hoje me ajude um pouco?

 

Fotografar a fé com cuidado e respeito

Quando se fotografa num lugar da mesma fé que o fotografo professa, deveria ser um pouco mais fácil (e natural) para ele respeitar o local, no entanto as vezes isso não acontece.

Como vivemos a era do “sem noção”, a falta de respeito é geral em Igrejas e se dizer Católico ou Cristão não significa que você tenha realmente alguma reverência pelo assunto.

É por isso que quando fotografamos esse tipo de ambiente é bom tomarmos alguns cuidados.

Igrejas
Corredor lateral da Igreja de Santo Antônio do Valongo em Santos – Ricardo Hage, 2018

Em primeiro lugar vamos pensar no comportamento do fotógrafo:

  • Ao fotografar algum lugar sagrado, seja lá de que religião for, procure saber quais áreas são públicas e quais são privadas com acesso apenas a fiéis ou por religiosos;
  • Em caso de dúvida peça permissão a algum responsável pelo local, lembre-se que seu foco é fotografar a fé com cuidado e respeito;
  • Em locais públicos tente retratar as pessoas com respeito ou de modo a mantê-las anônimas para não criar nenhum tipo de animosidade;
  • Saiba diferenciar cenas em que há interesse público, jornalístico, daquelas em que há apenas interesse documental pois é mais fácil justificar imagens em Igrejas com esse sentido;
  • Não seja muito intrusivo ao fotografar. Caso o ambiente faça parte da mesma fé que você professa fotografe como quem vive aquela situação.

O equipamento

Em segundo lugar vamos pensar no equipamento:

Smartphones: são universais, estão em toda parte e ninguém vai reparar muito em sua utilização. No entanto a maior parte desses equipamentos não tem ainda a mesma qualidade de imagem possível numa câmera dedicada ou profissional. Lembre-se de deixar o celular em modo silencioso, pois além de não tocar também não vai fazer aquele famoso barulhinho de disparador de câmera. Em ambientes com pouca luz podem decepcionar. Se isso é um problema para você, pense em levar um outro tipo de câmera. E cuidado com o uso do Flash, que na maioria das vezes está sempre em modo automático e pode chamar muito a atenção ou ter seu uso proibido.

Igrejas
Interior da Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados da Liberdade em São Paulo – Ricardo Hage, 2017

Câmeras compactas: este tipo de câmera, dependendo do modelo, não incomoda muito em Igrejas e passa despercebido pelas pessoas, mas tem seus problemas. Em primeiro lugar só as câmeras compactas mais caras tem bom comportamento em situações de baixa iluminação e baixa distorção ótica. Se você é muito chato em relação à qualidade de imagem vai reclamar do pequeno tamanho do sensor, que produz imagens com muito ruído e as vezes baixa definição.

Câmeras DSLR: são “pau para toda obra” e mesmo os equipamentos mais baratos tem uma boa qualidade de imagem, principalmente se você utilizar lentes de óptica mais avançada. Meu único senão quanto a este tipo de câmera é o tamanho, que as torna muito chamativas, e o som característico do obturador e do espelho. Todo mundo vai saber que você está fotografando e isso pode ser muito chato dentro de uma igreja em que os fiéis estejam em silêncio, por exemplo. Ah, e já ia me esquecendo, esse é o tipo de câmera que você tem que saber usar pois as vezes o modo automático (nos modelos mais simples) não dá conta do recado numa catacumba, por exemplo…

Igrejas
Velário da Igreja de São Judas, São Paulo – Ricardo Hage, 2018

Câmera Mirrorless: as vantagens desse tipo de câmera são muitas, dentre elas o tamanho reduzido, a qualidade das lentes e o disparador em modo silencioso, função presente em muitos desses modelos. É o tipo de equipamento preferido atualmente pelos Fotógrafos Urbanos (Street Photographers) pois permite que estejam sempre preparados para captar a melhor imagem de uma situação inesperada. No caso de algumas marcas também é possível utilizar apenas o obturador eletrônico da câmera, ao invés do obturador mecânico que sempre faz algum tipo de barulho.

Câmeras analógicas: o charme de fotografar Igrejas com filme anula toda e qualquer oposição que você possa esperar ter ao fotografar em um ambiente sagrado. Fotografar com uma câmera analógica atualmente já é um ato de fé por si só, hehehe. O único problema é que você só vai ter certeza mesmo do que fotografou quando revelar e ampliar o filme, coisa que no meu caso é sempre o resultado de um milagre, então Amém… Mas convenhamos, fotografar o sagrado com filme é arte pura!

 

A inspiração

Fotografar é olhar e sentir o ambiente a sua volta. Mesmo que você tenha o melhor equipamento e a melhor cena para fotografar, sua imagem pode resultar em algo sem graça se você também não estiver ali, inteiro.

Igrejas
Procissão de Nossa Senhora de Fátima, em São Paulo – Ricardo Hage, 2016

Eu sei que é meio subjetivo falar disso mas todos os grandes fotógrafos descrevem suas imagens mais famosas como experiências integrais, e não como simples registros bidimensionais.

Resumindo, a imagem que deixa o observador perplexo é aquela que deixou o fotógrafo também perplexo no momento da captação.

Você quer tirar a melhor foto de Igrejas e lugares sagrados? Fique envolvido pelo ambiente, respeite o culto ali desenvolvido, perceba o seu próprio olhar, coloque a câmera ou smartphone entre a cena e você, e então dispare. Tenho certeza que assim você não vai errar…

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