Mas afinal de contas o que é relação de aspecto numa câmera digital?
Você já tentou fotografar alguma coisa com sua câmera ou smartphone e ficou pensando como seria bom se o quadro de imagem fosse mais “cumpridinho” para poder caber um pouco mais da cena? Ou então mais “altinho” para caber a cabeça e os pés de uma pessoa sem termos que ficar mais distantes do dito cujo.
Bem, isso tem a ver com a relação de aspecto (aspect ratio) que a sua câmera reproduz. O termo é esquisito mas é algo bem fácil de entender.
A relação matemática entre as dimensões de determinado sensor fotográfico definem as proporções que esse quadro vai ter, ou seja, qual vão ser as proporções que a imagem vai apresentar no resultado final. Segundo a Wikipedia “A relação de aspecto de uma imagem descreve a relação proporcional entre sua largura e sua altura. É comumente expressa como dois números separados por dois pontos, como em 16: 9”.
Quem é mais velho deve lembrar-se daquelas fotos tiradas em câmeras que usavam um filme largo cujo negativo tinha o formato de um quadrado. Os mais conhecidos eram os filmes do tipo 120 que tinha dimensões de 6x6cm. Se calcularmos a relação proporcional entre sua largura e sua altura chegaremos ao fator de 1:1, ou seja, mesmo que as dimensões sejam imensas algo com essa relação será sempre um quadrado.
O filme 135, aquele cartucho de 35mm de altura muito conhecido na fotografia analógica tem um “aspect ratio” de 3:2 e normalmente é um retângulo nessa proporções que estamos acostumados a entender como “fotografia”.
Quando a era das câmeras digitais chegou a primeira relação de aspecto a ser utilizada foi a 4:3 pois os sensores ainda era derivados da tecnologia de câmeras de vídeo mas em breve os fabricantes perceberam que para atrair o público da fotografia teriam que apresentar relações de aspecto mais tradicionais nesse campo.
Foi assim que surgiu o formato APS-C (Advanced Photo System type-C) que mesmo sendo menor que um quadro de filme 135 (cerca de 56%) mantinha as mesmas proporções (3:2).
Atualmente cada tipo de sensor tem uma relação de aspecto própria que permite aos fabricantes aproveitarem essa caraterística para diferenciarem seus produtos.
Vejamos uma lista deles:
- Sensor APSC-C: relação de aspecto de 3:2, utilizado pela Nikon, Canon, Sony e Fujifilm. A Samsung utilizava o sensor mas descontinuou toda a sua linha em 2015.
- Sensor Full Frame: relação de aspecto de 3:2, utilizado pela Nikon, Canon, Sony, Leica e Pentax.
- Sensor Micro Four Thirds (M4/3): relação de aspecto de 4:3, utilizado pela Olympus, Panasonic e Yi.
- Sensor de Médio Formato: relação de aspecto de 1:1 ou 4:3 dependendo do fabricante, utilizado pela Leica, Mamiya-Leaf, Hasselblad e Fujifilm.
- Sensores menores que 1 polegada, utilizado em smartphones e câmeras compactas: relação de aspecto de 4:3
Muitas câmeras digitais e smartphones recentes oferecem a opção de ajustar a relação de aspecto por software. Normalmente ao selecionarmos uma relação de aspecto diferente da relação física do sensor a imagem é cortada reduzindo sua resolução em megapixels. Esse efeito só é perceptível na gravação de imagens em JPG pois os arquivos RAW são sempre gravados na máxima resolução possível e relação de aspecto original. A relação de 16:9 também é encontrada nos equipamentos que filmam videos em HD ou 4k, o que incluem desde os smartphones até as câmeras DSLR avançadas.
Por quê isso é importante ? A questão da composição
Da mesma maneira que na pintura ou no desenho tradicionais utilizamos o quadro do campo fotográfico para ajustar e compor os elementos que queremos retratar. É aí que a relação de aspecto dos sensores toma importância fundamental. Cada tipo de “aspect ratio” provoca uma maneira diferente de compor a fotografia fazendo com que acabemos por escolher os elementos de cena de maneira única para cada tipo de quadro.
Algumas redes sociais voltadas para a fotografia como o Instagram acabam nos obrigando a recortar nossas imagens para a relação de 1:1 dos filmes antigos. Em alguns casos isso pode inviabilizar a utilização de uma imagem bem composta em outro tipo de relação de aspecto.
Um exemplo de como podemos evitar esse problema é a utilização de um software que já faça esse recorte na captação da imagem, caso do Hipstamatic, aplicativo para iPhones. Outra maneira de captar imagens com razão 1:1 diretamente de um Galaxy S7 é o uso da capa S View da Samsung que permite que acionemos a câmera através de uma janela quadrada. Nesse caso a imagem tem seu tamanho reduzido de 12 para 9Mpx.
A experiência pessoal
Eu particularmente prefiro utilizar sempre em primeiro lugar a relação de aspecto 3:2 em minhas composições fotográficas. Como segunda escolha eu uso a relação de 1:1 produzindo imagens prontas para serem compartilhadas. Você pode ver um exemplo disso em minha página no Instagram.
A relação de 4:3 não me atrai nem um pouco e eu sempre configuro as câmeras com esse formato de sensor para os 3:2 nativos das DSLR mesmo que com isso eu perca algo do tamanho da imagem. Faço isso com smartphones, caso do Nokia 808 Pureview, câmeras do tipo M4/3 (só utilizei da Olympus até agora) e câmeras compactas. Caso eu acabe tendo que captar a imagem nessa relação de aspecto posteriormente recorto a imagem no Photoshop e a reconfiguro para 3:2.
Um outro detalhe interessante sobre a relação 1:1 é a de que ela é “divertida”. Sim, é essa a melhor palavra para definir esse tipo de quadro compositivo. Talvez por isso os interessados em “lomografia” utilizem tanto esse tipo de filme. Eu mesmo já publiquei um livro apenas com imagens nesse formato obtidas através da câmera do iPhone utilizando o aplicativo Hipstamatic, veja aqui.
A escolha do “aspect ratio” a ser utilizado é sempre uma opção pessoal. Ela depende da forma como você entende composição dentro do seu próprio universo artístico. Pense nisso na próxima vez que fotografar.
Pingback: É fácil: Como fotografar objetos flutuando | Ricardo Hage
Pingback: Leica lança versão da M10-P para cineastas | Ricardo Hage
Pingback: Proporção de Aspecto – Estudos Audiovisuais