Uma São Paulo revelada…
São Paulo é uma cidade muito louca! Sim, nasci e vivi aqui a vida toda e mesmo assim ainda sinto um certo estranhamento, como se fosse um imigrante.
Na realidade São Paulo é tão metamórfica que faz com que paisagens conhecidas deixem de ser familiares em questão de dias ou meses, quando não horas. Isso chega a fazer parte do meu processo criativo.
Talvez seja por isso que sempre fotografo os mesmos lugares da cidade. Vira e mexe consigo desses lugares conhecidos imagens estranhas, como se visse a paisagem urbana pela primeira vez.
Esse talvez seja o caso da Avenida Paulista, que dependendo do dia, horário e tipo de ocupação pode ser qualquer coisa, mesmo que no fundo seja apenas uma via qualquer, bem insossa por sinal.
A Serra da Cantareira é outra paisagem interessante, ameaçada pelo avanço paulatino da mancha urbana por sobre a Mata Atlântica, que insiste em se refugiar no topo das montanhas.
E pensar que o Bairro de Perus e Parada de Taipas avançam por sobre essas alturas. Além disso a fumaça das explosões da obra do Rodoanel Norte insiste em cortar o céu azul por onde trafega a maior parte dos vôos internacionais que chegam à São Paulo, na rota de aproximação que fica exatamente por sobre a Serra da Cantareira.
Quanto ao Centro da Cidade, prefiro não comentar… Minhas lembranças infantis ainda são de uma São Paulo chique, cheia de joalherias e docerias finas próximas à Praça da República e Avenida São Luis.
O Mappin era o centro de “civilização” da cidade. Lá era possível com dinheiro ou crediário equipar uma casa levando seus moradores do Brasil Colônia à Era Espacial. Ainda me lembro do departamento de Cine e Foto da grande loja, que tinha saída para a Rua Conselheiro Crispiniano, via dedicada ao comércio de câmeras fotográficas na época.
Lembro que no Natal era possível estacionar o carro perto da Rua 25 de Março sem problemas e sem flanelinhas. Depois disso era só passear sem grandes multidões pelas várias lojas de brinquedos que existiam pela região.
Na minha memória o Parque do Ibirapuera não mudou muito. Continua a ser um espaço estranhamente sem flores e sem paisagismo. Na realidade, desde aquela época, sentia que estava em um cenário do seriado “Perdidos no Espaço” com suas plantas de estúdio feitas com folhas secas.
Parecia, desde aquela época, que a multidão pisava por cima de tudo, matando qualquer coisa que não fosse mais forte que um capim forte ou um alto e desafiador Eucalipto.
Quanto as pessoas, muita coisa mudou. Se de certa forma a ocupação da cidade se tornou mais democrática, ela se tornou mais caótica.
Tudo é permitido e possível em qualquer lugar. Aquilo que batizei de “Chinelão”, estilo casual que contempla desde o rico desalinhado e sujo até o pobre bem asseado e duro, dominou a cidade.
As vezes fica difícil perceber a diferença entre a “Classe Media Falida e Ilustrada de Perdizes” e um mendigo tradicional, desses de novela.
Talvez seja por isso que nunca fotografei tantos mendigos como nesses dias…
A periferia, em todas as regiões da cidade, continua constrangendo meu olhar. Não pela pobreza, que na realidade não é tão pobre, mas pelo pudor de se mostrar e pela recusa de ser registrada sem um olhar atento e uma pergunta de desconfiança.
É mais natural fotografar a modernidade em Pinheiros do que na Brasilândia. Mesmo assim, insisto com cuidado e sensibilidade.
As entradas e saídas da cidade não são para todos. É possível viver a vida toda na cidade e nunca ter noção de onde ela começa e termina. Num raio de 70 Km do centro da cidade é provável que você não veja nenhum traço de fronteira entre a mancha urbana e o campo.
Nisso sou um privilegiado, pois vivo nas nuvens!
E assim, mais um aniversário da fundação de São Paulo nos lembra de olhar para o lugar onde tantos brasileiros vivem. São tantos que poderiam ser considerados uma nação diferente, cheia de sotaques e particularidades em cada “cantão” da cidade.
Mas não! Quantas vezes ouvi um Paulistano esquecendo desse termo as vezes mal visto que o define tão bem, para se dizer simplesmente Brasileiro…
Enfim, felicidades São Paulo. Sucesso na carreira, hehehe.