Usando RAW e JPEG com um smartphone na Paulista
Escolher entre usar arquivos RAW e JPEG com um smartphone é uma das dúvidas mais cruéis que um feliz proprietário de qualquer smartphone mais avançado vive.
Esse tipo de arquivo, o Raw File Format, contém toda a informação captada pelo sensor de modo bruto, sem as correções e alguns dos refinamentos de imagem aplicados quando a câmera grava a imagem em JPG.
Fazer a escolha entre fotografar com RAW e JPEG com um smartphone é difícil. Se por uma lado os arquivos do tipo JPG podem ser mais práticos e fáceis de manipular, o arquivo RAW pode revelar detalhes, como sombras ou áreas muito claras, que podem salvar uma fotografia “mal tirada”, digamos assim.
Foi por isso que resolvi fazer um teste entre arquivos RAW e JPG obtidos com smartphone em uma recente visita ao mirante do novo SESC da Av. Paulista, em São Paulo.
Visitando o Mirante
Confesso que não esperava muito do mirante, pois não é tão alto assim e a paisagem acaba ficando cheia de obstáculos pouco fotogênicos. Foi por isso que não levei nenhuma outra câmera além do meu surrado, mas bem cuidado, Samsung Galaxy S7 edge, um dos primeiros modelos da empresa a fotografar em RAW.
Ah, e se você tem um iPhone, veja a matéria que publiquei sobre arquivos RAW e JPG no smartphone da Apple.
Voltando ao assunto, as câmeras dos smartphones topo de linha da Samsung mantém basicamente a mesma tecnologia de sensor e gravação de imagem desde o S7 (fora a câmera dupla e a abertura variável), então a performance dos arquivos RAW obtidos não devem ser muito diferente dos produzidos por um smartphone Galaxy S8 ou S9.
Chegamos na Paulista de Metrô num Domingo, bem no meio da Greve dos Caminhoneiros que paralisou o país. A cidade estava basicamente sem combustível, então não me surpreendi com a grande quantidade de pessoas no Metrô.
Na Paulista a multidão ainda não começava a se avolumar quando descobrimos que havia uma fila para pegar um dos elevadores que nos levariam ao terraço do SESC Paulista.
A fila andou surpreendentemente rápido e em minutos estávamos no alto do edifício. O terraço não é muito grande e as pessoas se “insinuavam” por todas as possibilidades (frestas) de visualizar a paisagem no mirante de dois níveis.
Mudei a configuração do smartphone para Modo Pro, que já estava configurado para gravar as imagens tanto em RAW quanto JPG. Comecei a explorar a paisagem avidamente, tentando enxergar a composição na tela de LCD do aparelho, apesar da enorme luminosidade daquela hora do dia.
Problemas com RAW e JPEG no smartphone
Para meu espanto, alguns minutos depois, o smartphone começou a travar. O espaço da memória havia acabado.
Como isso era possível se o meu cartão SD estava praticamente com seus 32Gb livres? Lembrei que nos aparelhos da Samsung (e em quase todos os outros) a gravação de arquivos RAW é feita obrigatoriamente na memória interna, mesmo que você tenha configurado a câmera para usar a memória externa.
Dizem que isso acontece para que cartões de memória de qualidade e velocidade duvidosos não manchem a imagem de eficiência e rapidez desses aparelhos tão caros… Será?
E para piorar as coisas, o arquivo JPG que é registrado junto acaba duplicado, gravado tanto na memória interna quanto na externa.
Bem, parei tudo e dei um limpada rápida no que podia tirar da memória da câmera, mas não pude mais fotografar em RAW pois não tinha como conseguir mais espaço.
Se eu não fosse tão preguiçoso talvez tivesse aprendido a usar um daqueles aplicativos de organização de arquivos no Android. Poderia ter transferido as imagens RAW para o cartão SD e continuar a fotografar, mas paciência…
Ao chegar em casa começou o velho problema de como transferir os arquivos para o PC. Por padrão uso o Dropbox para transferir automaticamente meus arquivos do smartphone para a nuvem, e daí para o Mac onde manipulo minhas imagens. O problema é que elas acabam sendo muito grandes, com cerca de 22 Mb no caso da Samsung, e o Dropobox “meio que” se recusa a fazer o upload, não sei por que…
Acabei usando o Android File Transfer para Mac, um aplicativo antigo que as vezes não reconhece o smartphone, mas dessa vez funcionou.
Abrindo os arquivos RAW do Galaxy S7 no Photoshop apliquei o meu fluxo de trabalho familiar com que sempre trato minhas imagens.
Aplico sempre primeiro uma correção da distorção de lente, verifico a necessidade de retirar ruídos e testo entre a correção automática ou manual de iluminação. Aplico um pouco de Claridade na imagem e testo também o balanço de branco, apesar de quase nunca tira-lo do padrão da câmera.
Valeu a pena?
Fotografar em RAW e JPEG com um smartphone pode ser frustrante. Durante essa experiência eu, em um primeiro momento, não gostei dos resultados.
Talvez isso tenha ocorrido até porque as possibilidade de composição com esse tipo de equipamento sejam restritas (lente e aberturas fixas), mas comparando com os arquivos RAW com os JPG da mesma imagem percebi como havia salvo informações visuais importantes.
Meu maior ganho foi nas sombras, que ao serem suprimidas revelavam muitos detalhes importantes. Consegui também, apesar da grande luminosidade do dia, controlar o “estouro de branco”, aquele defeito que faz com que as áreas claras da imagem acabem por não mostrar nenhuma informação.
Sinceramente, os fabricantes ainda tem muito chão pela frente se pretendem oferecer a captação de imagens em RAW e JPEG com um smartphone como alguma coisa simples de usar e que valha a pena. Mas pensando bem, eles fazem smartphones para o publico em geral e não para essa espécie tão exótica e diletante, o fotógrafo móvel!