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A fotografia como terapia

Atualmente, apesar de seus prós e contras, muitas formas de expressão artística são usadas como ferramentas para a busca do auto conhecimento, equilíbrio pessoal e até mesmo como tratamento para algumas patologias, como a depressão.

A Arte Terapia é uma área do conhecimento onde trafegam profissionais de várias formações e campos de atuação, como Psicólogos, Educadores, Atores, Músicos e Artistas Visuais. No entanto o que poucas vezes encontrei foram Fotógrafos trabalhando esse assunto.



Pois é… é engraçado pensar nisso, ainda mais que na minha experiência acadêmica já fui até professor de um curso famoso de Especialização em Arte Terapia, mas normalmente a fotografia não é o primeiro tipo de expressão artística lembrado quando alguém se propõe a estudar a si mesmo, na busca da superação de problemas pessoais.

Faz tempo que descobri que a minha dificuldade em falar do conceito por trás do meu trabalho artístico tem a ver com o fato de que minha abordagem fotográfica é sempre ” terapêutica”: uso a câmera para superar minhas ansiedades, dificuldades e até fobias.

O resultado do meu trabalho é bastante coerente visualmente, mas enigmático para alguém que não procure entender meu “mundo vida”. Do ponto de vista artístico isso é um baita problema, mas do ponto de vista psicológico é de um sucesso incrível.

É por isso que resolvi falar um pouco, de uma maneira bem prática, do tipo de situação fotográfica que podemos aproveitar na descoberta de nossa própria individualidade.

 

Fotografando a própria prática profissional

Fotógrafo em ação – Ricardo Hage, 2017

Tanto para pessoas que trabalham ou não com fotografia, capturar imagens de seu dia a dia profissional pode ser importante para perceberem quem são como profissionais.

É importante para compreenderem melhor seu espaço de trabalho, perceberem as coisas que acontecem em seu caminho de casa para o trabalho, entender suas relações pessoais com colegas de trabalho e estudar melhor seus afetos profissionais. Enfim, ter um registro visual que possa ajudar a “desvelar” para o próprio fotógrafo quem é ele para quem compartilha seu universo de trabalho é muito importante.



 

Fotografando sua família e amigos

Churrasco entre amigos – Ricardo Hage, 2017

Às vezes não pensamos muito quando fotografamos nossos entes queridos. Parece incrível, mas a proximidade e a vida cotidiana fazem com que percamos a dimensão dos nossos afetos (e desafetos).

Um exercício muito bom para qualquer pessoa é olhar para sua família e amigos através do visor da câmera, procurando na imagem as suas melhores emoções. Muitas vezes fazemos isso com as crianças, apesar delas serem muito arredias como objeto fotográfico.



Esse tipo de exercício permite que reavaliemos nossas relações íntimas na busca por um melhor, e mais consciente, relacionamento familiar.  Pense em amar através da câmera, mas sem levar a coisa para um nível do voyerismo, por favor!

 

Escolher um tema fotográfico como hobby

Aterrizando em Cumbica – Ricardo Hage, 2017

É interessante como alguns hobbistas usam a fotografia como instrumento de sua paixão. Esse é o caso do grupo que pratica o “Birdwatching” ou Observação de Pássaros, uma prática muito difundida no mundo e no Brasil. É uma prática parecida com o “Spotting” ou a fotografia de aviões em aeroportos, ou mesmo voando. Esses interesses obrigam seus praticantes a aprenderem a fotografar e a desejar equipamentos cada vez mais sofisticados, na busca por captar imagens de objetos distantes, furtivos e rápidos.



Outro grupo numeroso é o que tem utilizado a câmera do smartphone para acompanhar o crescimento e florescimento de plantas domésticas, ou na paisagem urbana, publicando suas imagens logo em seguida nas redes sociais. Esse tipo de “passa tempo” (o termo é meio pejorativo…) pode facilitar a construção de relacionamentos sociais para pessoas muito fechadas, facilitar a comunicação entre pessoas tímidas, ou simplesmente permitir o encontro de novos amigos. É preciso compreender que o homem é um ser social, e que muitas patologias psicológicas podem ser evitadas quando criamos um relacionamento social saudável.

 

Utilizando a fotografia como meio de análise psicológica

Brincando com a vida. Fotografia Analógica – Ricardo Hage, 2017

Essa é uma atividade para ser feita em conjunto com um psicólogo ou terapeuta, envolvidos em um trabalho de tratamento com um determinado paciente. Esses profissionais muitas vezes usam seu conhecimento para encontrar pistas sobre os problemas psicológicos em fotografias, pinturas e desenhos produzidos por seus pacientes.



Alguns poucos orientadores especializados no âmbito da pesquisa Universitária, fundamentados na Filosofia, Hermenêutica e Fenomenologia, também podem ajudar o fotógrafo a utilizar sua produção fotográfica na busca pelo auto conhecimento. Caso você tenha esse tipo de acompanhamento converse com seu terapeuta sobre as possibilidades que a fotografia proporciona.

 

Utilizando a fotografia como Diário Pessoal

Velas na Igreja de São Judas, São Paulo – Ricardo Hage, 2017

Muitas pessoas se queixam de que não tem boa memória, que não se lembram de nada, ou de que não tem histórias para contar. Claro que, nesses casos, é possível que haja algum comprometimento da saúde, mas é muito comum que seja apenas um caso de falta de atenção com sua própria história. Criar o hábito de fotografar momentos importantes de nosso cotidiano pode ser uma maneira de pôr abaixo nossas pré-concepções de vida.



Para isso é possível utilizar smartphones conectados a sistemas de armazenamento de imagens, como o Google Fotos ou o Microsoft One Drive, e utilizar essas mesmas ferramentas como fazíamos com os antigos albuns de fotografia. Criando o hábito de olhar esses albuns virtuais podemos exercitar nossa memória, levando-nos a entender e valorizar melhor nosso passado.

 

Tomando um pouco de cuidado

As práticas que propus aqui são relativamente inofensivas, situam-se muitas vezes no âmbito do lúdico, mas tem um potencial de efetividade na melhoria da sua qualidade de vida bem grande. Caso você perceba que está encontrando em suas fotografias algo que lhe traga desconforto, ou até mesmo alguma “dor psicológica”, pare com a atividade e procure ajuda profissional. Também fique alerta para “hobbies” que se tornam obsessivos, pois quando isso acontece eles viram o problema e não a solução.

Use o bom senso e lembre-se, a prática da fotografia como terapia só deve objetivar que você seja cada vez mais feliz.

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