Fotografando a Diversidade na Parada Gay
Pois é, em São Paulo acontece mais uma Parada do Orgulho LGBT e para meu assombro até minha faxineira, que já é avó, diz que vai no evento. Não é que eu ache um absurdo ela ir mas é que eu detesto aglomerações de milhões de pessoas, sempre parece que vou morrer pisoteado na multidão.
Por incrível que pareça, e por mais mazelas que o mundo ainda tenha, estamos no século XXI e nesse início da era espacial parece que muita gente anda dando uma banana para o que os outros acham do seu jeito de ser ou de seu comportamento no entanto isso não quer dizer que não exista mais preconceito.
Pensando nisso e em outras “cositas mas” vale a pena pensar um pouco antes de fotografar qualquer Parada Gay, principalmente a de São Paulo, um evento que é um dos mais animados da Terra!
Sobre o Respeito:
Já andei falando sobre isso em um post sobre como fotografar o Carnaval mas vale repetir o conselho: apesar de algumas pessoas realmente “não se darem ao respeito” a Parada do Orgulho Gay fala basicamente sobre ser respeitado e talvez seja esse um bom motivo para procurarmos uma atitude positiva através de nossas lentes.
O caráter jornalístico de algumas situações nos autoriza, é claro, a registrar cenas que podem não ser muito construtivas mas utilizando o bom senso é possível captar pessoas e atitudes sem fazer julgamentos, coisa que aprendi com jornalistas estrangeiros que não atuam no Brasil.
Se você está fotografando apenas para fazer um registro pessoal do evento não há muitos problemas mas se você pretende divulgar essas imagens a coisa fica mais difícil. Pense sempre nas consequências.
Sobre os Personagens:
Você já se perguntou que pessoas são aquelas e de onde elas vêem? Como é a vida real de uma pessoa fora da Parada Gay? Esse pode ser um interessante contraponto aos milhões de fotos de Drags coloridas e super produzidas mas que nos deixam com a sensação de que aquelas pessoas vieram de Marte!
Converse, pergunte, se apresente e então fotografe. Você provavelmente vai descobrir como o simples ato de olhar aquelas pessoas de outra maneira vai fazer sua fotografia apresentar uma composição diferente. Não se esqueça que esse é o grande diferencial de um premiado fotógrafo da National Geographic Society…
Sobre a multidão:
Grandes massas de pessoas acabam se tornando um espécie de padrão de formas quando usamos uma lente grande angular para captar as cenas.
Para ajudar um pouco a dar tridimensionalidade e qualidade à imagem tente fotografar essas massas compactas de pessoas usando áreas iluminadas e sombras como elemento de composição. Isso adiciona um pouco de dramaticidade à imagens muito repetitivas.
Outro recurso interessante é fazer o contrário e reforçar ainda mais esse padrão fazendo colagens digitais entre várias tomadas da multidão no Photoshop. Eu particularmente gosto de utilizar alguma câmera com maior resolução de imagem (acima de 20 megapixels já me satisfaz) apenas para poder ‘pinçar” personagens dentro da multidão e ainda conseguir uma fotografia reconhecível.
Sobre o equipamento:
Tanto faz se você vai levar um smartphone, uma câmera compacta ou um equipamento profissional, o importante é que você saiba usa-lo.
Eu diria que um evento dessas proporções não é um lugar ideal para sair testando aquela câmera nova que você comprou. Sem saber exatamente onde todos os comandos estão ou como o equipamento responde depois que você aperta o disparador é muito provável que você perca aquela imagem importante, que só aparece uma vez na vida.
Para quem adora selfies é bom lembrar que a câmera frontal nem sempre tem a melhor resolução. Outro detalhe importante é usar a câmera frontal junto com o timer caso o seu smartphone permita. Isso ajuda a evitar tremidas e dá tempo para você compor melhor a foto. Algumas câmeras de selfies em smartphones vem com uma função chamada de “beauty” que deixa a imagem mais limpa mas que também apaga um pouco os detalhes, então tome cuidado para não obter uma foto que parece mais um desenho de mangá.
Se você vai usar uma câmera compacta coloque-a em alguma configuração do tipo “modo fotografia para esportes” pois é muito comum que as cenas se desenvolvam muito rapidamente à sua frente. Essa programação vai regular desde a sensibilidade ISO até a busca de foco para objetos em movimento. Câmeras do tipo “Bridge” equipadas com super zoom podem ser escolhas interessantes para alcançar assuntos que estão distantes ou isolados pela multidão.
Se você é fotógrafo profissional ou um amador avançado eu não tenho muitos conselhos técnicos para dar pois pressupõe-se que você saiba muito bem como utilizar seu equipamento. No entanto uma coisa eu posso dizer, utilize lentes do tipo “prime” (fixas) bem luminosas ou lentes zoom estabilizadas para conseguir a maior velocidade possível do obturador mesmo em sensibilidades menores. Outra coisa importante, não fique trocando de objetiva o tempo todo pois é fácil acontecer algum acidente com tanta gente se apertando perto de você. Eu por mim escolheria uma única objetiva e me adaptaria as possibilidades dela por todo o evento pois carregar uma bolsa cheia de lentes e acessórios não é muito agradável para quem não faz musculação.
Sobre a segurança:
Não há diferença entre a Parada Gay de São Paulo e qualquer outro mega evento na cidade então, se você ainda não leu, leia o post que fiz sobre segurança na fotografia urbana.
Use o bom senso, fique de olho em tudo o que acontece além do que você focaliza através de suas lentes e tudo dará certo.
É isso aí, acho que pensando em tudo o que comentei por aqui você pode ter uma ótima experiência como cronista visual do maior evento (dizem…) da diversidade sexual no mundo, então faça história com a sua câmera. Boa sorte!
PS.: Atualizei o post em 19/06/2017 com fotos que obtive na Parada LGBT 2017 graças a insistência de Manolo Vilches que não só me acompanhou ao evento como também deu apoio moral quando tive uma crise de soluços!