A Fotografia Digital como Arte
Em tempos de crise e de Dólar alto se já fica difícil falar de fotografia fica mais difícil ainda falar dela como “arte”. Pois é, para a maior parte das pessoas a fotografia continua sendo apenas um forma de registro de memórias alegres ou tristes ou então, no caso das selfies (e nudes?), uma espécie de promoção pessoal.
Falar da fotografia como arte significa colocá-la em um outro lugar onde o fotógrafo e sua história de vida convivem lado a lado com a técnica e principalmente com o desejo de auto expressão. De certa maneira essa postura faz com possamos entender a diferença que existe na fotografia comercial entre aquelas produções feitas por fotógrafos que só querem resolver o trabalho e pronto e entre aqueles que também querem entregar um trabalho bem feito mas que são “perseguidos” por sua formação artística. Depois de tantos anos percebi que invariavelmente o fotógrafo “artista” sempre entrega um produto que carrega o tal do efeito “Uau!”.
Até aqui não falei nenhuma novidade, sabe-se disso desde que a fotografia surgiu e começou a tirar da pintura a função de registrar para a história a forma das pessoas e das situações sociais, fazendo com que os artistas tivessem que se reinventar lançando a Arte como um todo para a modernidade.
Com a fotografia digital a situação tomou um outro rumo. Nunca se banalizou tanto o ato de fotografar e o que quero dizer com isso é que se tornou economicamente viável disparar uma câmera sem sequer saber o que se está fotografando. Se a memória do smartphone ficar entupida basta apagar as fotografias menos significativas ou transferi-las para um computador ou para essa tal de “Nuvem!”, como diria Magnólia, a psicopata da novela das 9 vivida pela atriz Vera Holtz.
O mundo da imagem digital com sua instantaneidade também proporcionou para a fotografia funções nunca antes imaginadas. Outro dia mesmo precisava ler o número serial de um ar condicionado que estava pifado para poder informar a assistência técnica. Como estava sem escada peguei o smartphone, estiquei o braço o mais próximo possível da etiqueta do número serial e fotografei. Depois foi só ampliar a foto com o famoso movimento dos “dois dedinhos em pinça” para poder ler o número de série do aparelho. Do ponto de vista puramente formal isso é fotografia.
No final das contas a banalização econômica do ato de fotografar fez com que tenhamos que ser mais conscientes do que nunca de nossa formação artística para conseguir uma imagem que tenha um valor a mais do que aquela foto tirada simplesmente para obter um registro.
Então como fotografar pensando em fazer arte? Imaginei algumas estratégias.
Estratégias tradicionais da fotografia analógica:
- Imagine que você está usando uma câmera de filme onde cada exposição tem um custo alto.
- Verifique com muito cuidado as configurações da câmera e a composição da foto antes de disparar.
- Dê um tempo a mais para cada disparo como se você estivesse apreciando aquele momento.
- Numa sessão de fotos converse com o modelo alguns minutos antes de cada disparo fazendo com que a pessoa também compartilhe do seu objetivo.
- Quando fotografar paisagens pare e fique observando as nuances que o clima cria nos objetos naturais. Use um filtro ND (neutral density) para ampliar o tempo de exposição e criar imagens enevoadas das águas de um rio ou das nuvens. Até mesmo alguns smartphones tem o filtro ND como função.
- No caso da fotografia urbana (Street Photography) passe pelo mesmo lugar ou cena algumas vezes para entender melhor a situação antes de fotografar. Como as pessoas vão e voltam ativamente pela cidade é fácil encontrar um personagem que dê um valor a mais a uma cena urbana que antes não tinha nenhuma graça.
- Lembre-se que composição é tudo em uma fotografia portanto olhe pelo visor ou tela da câmera como se estivesse olhando para uma folha de papel na qual você vai desenhar.
Estratégias possíveis apenas com a fotografia digital (as que mais uso):
- Fotografe desesperadamente. Use o máximo de cartões de memória que puder ter e leve baterias sobressalentes ou carregadores móveis.
- Passe dias observando todas as imagens que você obteve procurando nelas alguma coisa de surpreendente ou que tenha uma dramaticidade a mais.
- Volte a ver as suas fotografias depois de algum tempo pois a memória de quando você fotografou já estará consolidada e fará com que você veja novas possibilidades fotográficas.
- Fotografe também em RAW pois muitas imagens “mal tiradas” podem ser recuperadas com a edição desses arquivos no computador. Dessa maneira você pode ter mais chances de conseguir extrair aquela imagem fantástica dentre as milhares que você tirou numa sessão de fotos.
- Utilize o Photoshop e outros softwares tais como os plug-ins e filtros analógicos para melhorar suas imagens dando a elas uma qualidade adicional.
- Os softwares de imagem estão sempre sendo atualizados e novas funções surgem para permitir que uma imagem “ruim” possa se tornar aceitável. Esse é o caso da função de redução de vibração recentemente introduzida no Photoshop. Use essas funções sem preconceitos.
- Quanto maior a resolução da câmera mais fácil será apagar elementos estranhos na cena ou recortar sujeitos interessantes sem perder muita qualidade.
- Lembre-se que composição é tudo em fotografia portanto mesmo que você não esteja olhando pelo visor ou tela da câmera quando estiver apertando o disparador (coisa muito comum de acontecer nesse tipo de abordagem) pense em como você gostaria que a imagem final ficasse. Sempre dá para tentar recompor a fotografia no Photoshop mais tarde.
Ao usar essas dicas pense em como você vê suas fotografias. Seja você um profissional, um amador ou um “simples” usuário de smartphone pensar nisso dá um pouco de sentido ao ato de fotografar e pode fazer a diferença entre uma memória bem guardada e um monte de imagens amontoadas num cartão SD…