Opinião: Como ganhar dinheiro com fotografia
Por muito tempo eu resisti em escrever um artigo como esse até por que se eu soubesse como ganhar dinheiro com fotografia eu não estaria aqui, estaria ganhando dinheiro.
Mas a crise apertou e fiquei sabendo na última semana que muitos amigos meus perderam os empregos incluindo alguns com cargos muito bons. Quando esse tipo de coisa acontece muita gente resolve fazer brigadeiro, cozinhar para fora, comprar uma franquia, tentar um concurso público e, pasmem, abrir um negócio fotográfico.
Bom, quanto as outras ocupações eu não posso falar nada mas quanto a fotografia, quem sabe…
Pensando nisso relacionei as competências que um determinado indivíduo da espécie humana precisaria para “tentar” se dar bem em algumas áreas do mercado fotográfico e tentei refletir um pouco sobre elas para ajudar um pouco, caso essa seja a sua situação. Então vejamos essas competências.
Aviso legal: eu não me responsabilizo pelo sucesso ou falência de negócios baseados nesses conselhos!
Saber vender
Vender alguma coisa para alguém nada mais é do que negociar entre a sua necessidade e a necessidade do outro. A sua necessidade só você pode saber qual é (sobreviver, viver dignamente ou viver “nababescamente”) mas a do outro provavelmente terá a ver com algum serviço fotográfico. Você pode aprender à vender, existem muitos cursos como os do Sebrae que ensinam a dinâmica da venda, mas algumas pessoas nascem com uma espécie de “dom”, daí alguns acharem que vender é uma arte.
Se você não nasceu para isso trate do ato de vender como uma ciência e estude. Sim, essa é a palavra, e esse é um problema em uma sociedade que “aprendeu” que estudar é chato e ruim, não dá prazer. Se você ficar esperando que o estudo te dê prazer você vai acabar morrendo de fome então saia da zona de conforto e procure algum curso. Existem várias organizações que ensinam empreendedorismo e vendas de uma maneira geral e isso sempre pode ser um ponto de partida para quem não faz a mínima ideia do que é não ter patrão (nem 13º terceiro salário, lembre-se disso).
Mas, e se você quer apenas conseguir um emprego na área de fotografia? O problema é o mesmo mas o produto da venda é, antes de tudo, você! Sim, num mercado cheio de gente querendo trabalhar e poucas vagas disponíveis você tem que se destacar de alguma maneira e aí precisamos pensar um pouco.
Em primeiro lugar, na maior parte das vezes não é chamando muito a atenção sobre nós que garantimos um lugar no mercado de trabalho. As vezes a empresa quer uma pessoa calma, que passe tranquilidade e segurança e não aquele fulano super pró ativo que parece disposto até mesmo a “roubar” o emprego do dono da empresa.
Olhe para o cargo e pense: o que eu preciso para se selecionado para o emprego?
Outro dia fui à uma festa e havia uma equipe de fotografia cujo auxiliar de iluminação parecia um Zumbi! Sim, ia pra lá e para cá segurando um iluminador LED sem expressão nenhuma. Parecia uma pessoa simples e imaginei que ele poderia estar fazendo qualquer outro tipo de atividade, talvez aquilo fosse apenas um bico, mas pensei que deveria fazer sentido para o fotógrafo colocar aquele “profissional” para trabalhar ali. Talvez seu segredo fosse dizer que não tinha intenção de um dia ser um fotógrafo famoso, não sei. E talvez ele fosse feliz nessa função, o que no fundo é o mais importante.
Por falar nisso, estava passeando num sábado por uma feira de antiguidades e dei de cara com um mocinha minúscula, toda vestida de preto, um olhar “blasé” como se estivesse com fome ou depressiva, segurando um gigantesco conjunto de câmera FullFrame e lente profissional ao lado de um digníssimo tripé Manfrotto (aquele da bolinha vermelha). Em volta percebi que havia uma equipe de filmagem bem mais animada que ela e fiquei pensando: como é que uma pessoa com aquela expressão pode ser contratada para fazer um trabalho desses? Bom, talvez o motivo é que naquele ambiente, totalmente Hipster e antenado, uma expressão de tédio e desesperança típicos de um fotógrafo artista cursando um Mestrado em Semiótica seja um diferencial de vendas.
Ter o que vender
Por incrível que pareça até mesmo em um país como o nosso é necessário ter o que vender! E se você pretende trabalhar no mercado fotográfico existem várias vertentes de produtos e serviços a serem comercializados.
Se você pretende vender imagens você pode fotografar por encomenda ou fotografar em um projeto próprio.
Daí surgem duas situações: você fotografa o que o cliente pede, como por exemplo um casamento ou uma produção de moda, ou cria um corpo de trabalho próprio com consistência artística para ser exibido em alguma Bienal Internacional ou galeria de arte. Nos dois casos, garanto para você, quem acaba mandando é sempre o cliente.
Destacar-se em um mercado destes, tanto o de serviços quanto o artístico, é algo que exige um produto de qualidade. Quanto mais as suas fotografias surpreenderem o cliente ou o público mais fácil será para você se estabelecer. Para que isso aconteça você precisa estudar, praticar, conversar sobre o que produziu e refletir para mudar sempre para melhor. Eu dou aulas deste tipo de coisa, sei o que estou falando, hehehe.
Agora se você quer vender equipamentos ou serviços de impressão e acabamento você precisa desenvolver produtos que o diferenciem da concorrência. Tente representar algum fabricante que tem pouca ou nenhuma distribuição por aqui, produza peças de acabamento ou promoção fotográfica com ideias e design diferenciado. Se você não sabe o que a palavra “design” significa (e não designer, que é quem “faz” design) você precisa estudar, procurar na Internet por novas ideias (sem copiar, né!) e sair do lugar comum.
Suas chances de ter um negócio que dê certo podem assim ficar maiores.
Ter para quem vender
Onde está o seu cliente?
Sim, eu sei que para muitos essa questão é a última a ser pensada mas no fundo é a mais importante. Uma vez ouvi um famoso consultor dizendo que é melhor você ter clientes do que ter o produto para oferecer.
Eu me perguntei: “Mas o cliente não vai ficar irritado e procurar outro fornecedor?”. Resposta: se ele já está procurando por você então, mesmo se ainda não tem como oferecer o serviço ou produto, o cliente vai esperar por você. Segure as pontas, diga que precisa de alguns dias para poder atender o cliente e corra! Pelo menos você já vai ter um estímulo para preparar o seu negócio bem rápido, mesmo que ainda seja meio provisório.
Divulgar seu trabalho também é importante mas isso vai depender do capital que você tem para investir, do seu conhecimento de marketing ou da sua capacidade de rezar com fé!
Sim, não estou brincando, é bom você ter fé porque mesmo que você possa contratar um bom assessor de imprensa ou uma agência de marketing eles não fazem milagre e as vezes o investimento não compensa o retorno. Hoje em dia até é possível gerenciar a sua própria campanha através das redes sociais ou mesmo nos anúncios do Google mas é preciso dedicar tempo para aprender a usar essas ferramentas e para gerenciar sua campanha. Normalmente o tempo investido nisso é tão grande que não sobra muito para você se dedicar ao gerenciamento do seu negócio.
Quanto a rezar, bem… eu acho que no final das contas é só isso que funciona mesmo!
Saber quanto cobrar
É muito bonito a gente dizer que deseja democratizar o acesso das pessoas à fotografia barateando o trabalho, mas essa filosofia vai conseguir manter de pé o seu negócio?
Entender seus custos é muito importante pois sem essa compreensão você pode ficar com a falsa noção de que está prosperando enquanto na realidade você está se afundando.
A melhor maneira que consegui achar até agora para saber quais são os meus custos é muito utilizada pelos Anglo-saxões, ou seja, funciona em economias racionais, inteligentes e honestas.
Faça uma lista de todos os custos que você precisa ter por mês para seu negócio fotográfico funcionar. Seja honesto e coloque tudo mesmo: água, luz, telefone, internet, aluguel para quem tem estúdio, seguro, publicidade, manutenção e design de site, manutenção de automóvel, custo do Uber, etc.
Eu se eu fosse você colocava até o custo do cafezinho além, é claro, do custo de assistentes e até mesmo secretária. Bem, é bom lembrar que se você vai ter esse nível de complexidade em seu negócio vai se necessário contratar um contador. Estava também esquecendo dos custos bancários…
Depois de toda essa “catarse” você está pronto para levar um susto!
Pense em quantas horas de trabalho você disponibilizará para seu negócio por mês. Parece um cálculo simples mas não dá para trabalhar o tempo todo então eu, como sugestão, diria para definir algo em torno de 120 horas/mês o que dá 30 horas semanais.
Some então o total de custos e divida pelo número de horas de trabalho para, “voilá”, saber quanto é o preço de custo da sua hora de trabalho.
E tome cuidado, esse é o custo, não tem lucro nenhum embutido.
A partir daí adicione ao custo fixo o quanto você pretende retirar de renda bruta por mês (seu salário, sem imposto) e será possível saber qual o custo final de sua hora de trabalho para o cliente.
Na realidade esse cálculo pode ser muito mais complexo e seria necessário uma consultoria com um contador ou até mesmo com o Sebrae para ter real noção das relações financeiras de todo o seu negócio, mas… estamos no Brasil e o que conta mesmo é o quanto o cliente quer pagar!
Esse é o problema, pode ser que você descubra com esse simples cálculo (no fundo não é complicado) que mesmo o seu preço de custo (sem o seu salário) está muito acima do que o cliente quer pagar.
Aí só tem dois jeitos:
- tentar diminuir esse custo ao máximo possível, mesmo diminuindo a qualidade do produto, e ver o que acontece;
- Virar uma celebridade para poder cobrar o que quiser de quem quiser, e isso, sinceramente, eu não sei como fazer, Sorry!
Ter como cobrar
Há alguns anos atrás um fotografo autônomo só tinha duas opções de cobrança: dinheiro vivo ou cheque à vista e pré-datado. Isso diminuía muito as possibilidades de uma venda rápida, por impulso, ou aumentava bastante a ansiedade com a possibilidade de inadimplência.
Atualmente não há mais desculpa para você não aceitar cartões de crédito e débito. Existe uma variedade bem grande de serviços desse tipo até mesmo para pessoas físicas, com “maquinhinha” e tudo mais. Alguns desses serviços permitem até mesmo emitir boleto ou fazer a cobrança por email.
Dessa maneira pedir um sinal e ter a certeza de iniciar um trabalho já com algum dinheiro em mãos ficou mais fácil e também mais impessoal, pois fica difícil (mas não impossível) o cliente pedir um jeitinho nesse sistema.
É, você acaba ficando com uma cara mais profissional!
Eu não vou indicar nenhum desses serviços pois não ganho nada com isso, hehehe, mas quando você for fazer alguma compra e se deparar com algum sistema de cobrança desses pergunte, como quem não quer nada, o que o comerciante está achando do sistema. Já encontrei este tipo de “maquinhinha” entre vendedores de Jequiti, donos de bancas em feiras de antiguidades, camelôs, brechós, artesãos, professores particulares e pasmem, fotógrafos!
Sempre pergunto o que acham das taxas, se o sistema funciona, o tempo de espera pelo pagamento, etc, etc. Claro que a resposta vai depender do tipo de empatia que você desenvolver com o comerciante mas esse tipo de informação pode ser muito esclarecedora.
Bom, agora se você pretende ter uma empresa estabelecida com uma operação mais complexa você pode procurar um banco. Deus queira que você tenha movimento financeiro suficiente para ser bem tratado pois os custos desse tipo de serviço podem ser altos e se você não tiver poder de fogo para barganhar com o gerente, já viu, né?
Saber se é isto que você quer fazer o resto da vida
Não acho que deveríamos ter um único tipo de ocupação durante a vida mas tudo anda tão difícil ultimamente que considero mudar de ocupação muitas vezes um problema. Ter experiência numa determinada área e apostar nela por muito tempo pode ser uma garantia de que sempre seremos reconhecidos como bons profissionais mas… e se a área de trabalho escolhida está em crise ou em vias de extinção?
Pois é, a fotografia está em crise, um problema que não é somente econômico.
As idéias de contratar alguém para fotografar um evento, imprimir uma foto para manter uma recordação, e mesmo de comprar uma câmera de melhor qualidade para conseguir uma imagem sofisticada estão sendo substituídas no imaginário coletivo mundial pelo Smartphone e pelas Redes Sociais.
Não adianta fugir disso. Até mesmo aqui no Blog, onde faço questão de focar mais na fotografia tradicional, os textos que falam de smartphones e aplicativos tem muitas vezes mais audiência que os outros assuntos. Quando digo muitas vezes estou falando da casa das dezenas ou centenas de vezes!
O que estou querendo dizer é que talvez você esteja investindo numa área que pode sumir ou se transformar totalmente, coisa que já ocorreu com as Escolas de Datilografia e os fabricantes de máquinas de escrever, só para lembrar um exemplo.
Quem tem a minha idade lembra da profusão de escolas desse tipo. Eram empresas que precisavam mobilizar um bom capital em salas e máquinas de escrever, tinham uma metodologia própria, livros publicados e até programas de formação de professores. Mesmo profissionais de nível superior, como Direito ou Medicina, aprendiam a datilografar para quando necessitassem escrever alguma coisa em seu ofício sem a ajuda de uma secretária.
Essas escolas e fabricantes de máquinas de escrever até tentaram migrar para a a nova era que se apresentava oferecendo cursos de digitação e informática além de equipamentos de computação, mas que fim tiveram elas?
Pense nisso e lembre-se: o mercado fotográfico tradicional está encolhendo no mundo todo por uma questão estrutural e não financeira.
Você quer apostar todas as suas fichas nisso? Então pense sempre mais a frente, esteja antenado, use as novas tecnologias a seu favor, perceba as novas “ondas” antes que elas aconteçam e aproveite.
Eu dou o maior apoio!
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