Exclusivo

Uma São Paulo revelada…

São Paulo é uma cidade muito louca! Sim, nasci e vivi aqui a vida toda e mesmo assim ainda sinto um certo estranhamento, como se fosse um imigrante.

Na realidade São Paulo é tão metamórfica que faz com que paisagens conhecidas deixem de ser familiares em questão de dias ou meses, quando não horas. Isso chega a fazer parte do meu processo criativo.

São Paulo
Skatista sobre skyline de São Paulo – Ricardo Hage, 2018

Talvez seja por isso que sempre fotografo os mesmos lugares da cidade. Vira e mexe consigo desses lugares conhecidos imagens estranhas, como se visse a paisagem urbana pela primeira vez.

São Paulo
Ponto de taxi na Av. Paulista – Ricardo Hage, 2018

Esse talvez seja o caso da Avenida Paulista, que dependendo do dia, horário e tipo de ocupação pode ser qualquer coisa, mesmo que no fundo seja apenas uma via qualquer, bem insossa por sinal.

A Serra da Cantareira é outra paisagem interessante, ameaçada pelo avanço paulatino da mancha urbana por sobre a Mata Atlântica, que insiste em se refugiar no topo das montanhas.

São Paulo
Raio caindo em São Paulo com a Serra da Cantareira ao fundo – Ricardo Hage, 2019

E pensar que o Bairro de Perus e Parada de Taipas avançam por sobre essas alturas. Além disso a fumaça das explosões da obra do Rodoanel Norte insiste em cortar o céu azul por onde trafega a maior parte dos vôos internacionais que chegam à São Paulo, na rota de aproximação que fica exatamente por sobre a Serra da Cantareira.

São Paulo
Cúpula da Catedral da Sé – Ricardo Hage, 2018

Quanto ao Centro da Cidade, prefiro não comentar… Minhas lembranças infantis ainda são de uma São Paulo chique, cheia de joalherias e docerias finas próximas à Praça da República e Avenida São Luis.

Edifício Viadutos projetado por Artacho Jurado – Ricardo Hage, 2018

O Mappin era o centro de “civilização” da cidade. Lá era possível com dinheiro ou crediário equipar uma casa levando seus moradores do Brasil Colônia à Era Espacial. Ainda me lembro do departamento de Cine e Foto da grande loja, que tinha saída para a Rua Conselheiro Crispiniano, via dedicada ao comércio de câmeras fotográficas na época.

São Paulo
Betoneira decorada para o Natal em São Paulo – Ricardo Hage, 2018

Lembro que no Natal era possível estacionar o carro perto da Rua 25 de Março sem problemas e sem flanelinhas. Depois disso era só passear sem grandes multidões pelas várias lojas de brinquedos que existiam pela região.

Na minha memória o Parque do Ibirapuera não mudou muito. Continua a ser um espaço estranhamente sem flores e sem paisagismo. Na realidade, desde aquela época, sentia que estava em um cenário do seriado “Perdidos no Espaço” com suas plantas de estúdio feitas com folhas secas.

Sâo Paulo englobando o Obelisco do Ibirapuera – Ricardo Hage, 2018

Parecia, desde aquela época, que a multidão pisava por cima de tudo, matando qualquer coisa que não fosse mais forte que um capim forte ou um alto e desafiador Eucalipto.

Quanto as pessoas, muita coisa mudou. Se de certa forma a ocupação da cidade se tornou mais democrática, ela se tornou mais caótica.

São Paulo
Equilibrista sobre corda bamba em viaduto na Av. Sumaré – Ricardo Hage, 2018

Tudo é permitido e possível em qualquer lugar. Aquilo que batizei de “Chinelão”, estilo casual que contempla desde o rico desalinhado e sujo até o pobre bem asseado e duro, dominou a cidade.

Estátua Viva na Av. Paulista – Ricardo Hage, 2018

As vezes fica difícil perceber a diferença entre a “Classe Media Falida e Ilustrada de Perdizes” e um mendigo tradicional, desses de novela.

São Paulo
Mendigo Fashion encaixado em muro nos Jardins em São Paulo – Ricardo Hage, 2018

Talvez seja por isso que nunca fotografei tantos mendigos como nesses dias…

Observador e transeunte sobre verde – Ricardo Hage, 2018

A periferia, em todas as regiões da cidade, continua constrangendo meu olhar. Não pela pobreza, que na realidade não é tão pobre, mas pelo pudor de se mostrar e pela recusa de ser registrada sem um olhar atento e uma pergunta de desconfiança.

São Paulo
Espigão da Paulista visto das alturas da Vila Brasilândia – Ricardo Hage, 2016/2019

É mais natural fotografar a modernidade em Pinheiros do que na Brasilândia. Mesmo assim, insisto com cuidado e sensibilidade.

São Paulo
Grafitti em esquina da Vila Brasilândia – Ricardo Hage, 2019

As entradas e saídas da cidade não são para todos. É possível viver a vida toda na cidade e nunca ter noção de onde ela começa e termina. Num raio de 70 Km do centro da cidade é provável que você não veja nenhum traço de fronteira entre a mancha urbana e o campo.

Nisso sou um privilegiado, pois vivo nas nuvens!

Terraço do SESC Paulista visto de baixo – Ricardo Hage, 2018

E assim, mais um aniversário da fundação de São Paulo nos lembra de olhar para o lugar onde tantos brasileiros vivem. São tantos que poderiam ser considerados uma nação diferente, cheia de sotaques e particularidades em cada “cantão” da cidade.

Mas não! Quantas vezes ouvi um Paulistano esquecendo desse termo as vezes mal visto que o define tão bem, para se dizer simplesmente Brasileiro…

Enfim, felicidades São Paulo. Sucesso na carreira, hehehe.

Deixe uma resposta