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Dicas para usar câmeras antigas em pleno Século XXI

A gente vai ficando velho e as vezes não percebe que a maioria das pessoas com menos de 30 anos nem sabe o que é uma câmera de filme.

É engraçado pensar nisso mas a chamada câmera analógica (em contraponto com as câmeras digitais) quase desapareceu do mapa. Alguns movimentos como a Lomografia tentaram salvar a fotografia com filme como uma forma de expressão cultural e artística mas no Brasil a grave crise econômica praticamente fez com que laboratórios e lojas de revelação de filmes em 1 hora desaparecessem.

Como sou da velha guarda tenho um carinho muito grande pelas câmeras analógicas. Elas não obrigavam a gente a trocar de equipamento a toda hora simplesmente porquê a resolução dos sensores disponíveis no mercado aumentou. Melhorar a qualidade da imagem naquela época tinha mais a ver com a lente e o filme utilizado do que com a câmera em si.

Então para ajudar um pouco os novos e velhos interessados em fotografia com filmes químicos resolvi dar algumas dicas:

 

  • Procure o filme antes de comprar ou restaurar uma câmera:

 

Muitas câmeras analógicas utilizam filmes que não são mais encontrados no mercado. Esse é o caso dos filmes Advantix e dos cartuchos do tipo 126 ou 110. Até é possível encontrar alguns exemplares desses filmes já vencidos mas aí o problema é a revelação.

Câmeras Polaroid também sofrem do mesmo problema sendo as vezes possível encontrar os cartuchos de filme fabricados pela Impossible para os modelos da linha 600.

Os filmes mais fáceis de se achar no mercado e que ainda estão em produção são os do tipo 135. Tome cuidado antes de comprar filmes 120 ou 220 coloridos pois não é fácil achar quem os revele. Já as versões em preto e branco podem ser facilmente processadas.

Antes de fazer qualquer investimento não custa saber a situação do mercado de filmes pois você pode correr o risco de sua câmera virar unicamente uma peça de decoração.

 

À esquerda cartucho de filme 126. À direita embalagem de luxo com câmera Kodak e filme 110 (fonte wikimedia)

 

  • Procure conhecer os serviços de revelação disponíveis em sua região:

Foi-se o tempo que qualquer esquina tinha uma loja com revelação e ampliação de filmes em 1 hora. Mesmo em cidades grandes como São Paulo é difícil achar algum serviço de revelação rápido e isso é um problema para quem está acostumado com a instantaneidade da fotografia digital.

Em uma pesquisa rápida descobri que a maioria das lojas de fotografia recebe filmes 35mm para revelar mas chegam a pedir até 8 dias para a entrega do serviço. Provavelmente enviam o filme para algum laboratório que centraliza as revelações.

Com a fotografia digital ficamos muito acostumados a ver a imagem no mesmo momento em que a obtemos e é preciso lembrar que a ansiedade não faz parte da fotografia analógica.

 

  • Aprenda a revelar você mesmo:

Na fotografia em preto e branco não é muito difícil fazer revelações caseiras. O equipamento é simples e barato sendo que você pode pular a fase da ampliação fotográfica (que necessita de um ampliador) e usar um scanner “ching-ling” ou até mesmo fazer uma gambiarra com seu smartphone para digitalizar as imagens do filme.

Já na fotografia colorida a situação fica mais complicada mas se você tem interesse como hobby pode valer a pena. Existem algumas escolas especializadas que ensinam todo o processo de revelação e ampliação e que até mesmo alugam o laboratório por hora para os interessados. Você pode procurar também pelos muitos tutoriais que ensinam o processo de revelação no YouTube.

 

  • Não fique frustrado com os resultados:

Câmeras antigas podem ter problemas de vazamento de luz provocadas por tampas do compartimento de filme desalinhados ou até mesmo pelo encaixe da lente desajustado, o que pode “velar” o filme expondo o negativo totalmente à luz.

Outro problema é o de que a maioria das câmeras antigas foi projetada para fotografar à luz do dia com filmes de ISO 100 e atualmente estamos acostumados a fotografar em qualquer situação de iluminação.

Para ter idéia de como um filme irá reagir à uma determinada cena use uma câmera digital para fotografar com a mesma configuração de ISO, abertura de lente e velocidade de exposição. O resultado deveria ser próximo ao conseguido pelo filme nas mesmas configurações. Digo deveria porquê na maior parte das vezes a câmera digital apresenta uma imagem de mais qualidade do que o filme em condições de pouca luz.

Dê tempo ao tempo, com a pratica você irá diminuir a quantidade de filmes velados e fotografias tremidas…

 

  • Escolha bem a sua câmera:

Se você vai comprar uma câmera antiga pense em que tipo de investimento você vai fazer. Algumas lojas especializadas vendem câmeras restauradas funcionando plenamente e com garantia. São equipamento mais caros mas que podem valer a pena pelo aspecto do equipamento e qualidade da imagem.

Comprar em sites de venda e troca de usados também é interessante mas é possível que você se arrependa da compra pois fica difícil verificar o real estado do equipamento. Pense na relação custo benefício pois é possível achar boas compras nesse tipo de site.

Em feiras de antiguidades e brechós você também pode encontrar bons equipamentos mas lembre-se que provavelmente o vendedor não sabe muito do estado das câmeras à venda pois antiquários não tem obrigação de saber tudo sobre lentes e obturadores.

 

  • Atenção com as lentes:

Câmeras antigas podem ter sido muito mal tratadas e suas lentes podem estar riscadas ou até mesmo conter fungos. Esse tipo de ocorrência as vezes deforma um pouco as imagens e pode fazer com que você não fique satisfeito com as fotografias obtidas.

Se a lente está muito surrada talvez não valha a pena utilizá-la. Ah, e os fungos podem ser um problema pois alguns fotógrafos tem medo de que ao misturar lentes fungadas com outras limpas os esporos se espalhem.

Na dúvida tome cuidado. Em breve devo fazer um artigo sobre esse tipo de problema.

 

Fotografar com filme analógico pode ser muito envolvente e tomar um pouco de cuidado com a escolha, manutenção e utilização de uma câmera antiga pode render anos (ou quem sabe séculos) de diversão e laser.